segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Crônica 1 do livro Cultura com tempero e sabor

Sou professora da rede particular e em 2008 o SIMPRO, lançou  edital convidando-nos a escrever uma crônica. A crônica teria relação com uma receita que tivesse um significado para o autor. Como amo escrever, escrevi duas. Ambas fazendo referencias as delícias preparadas por minhas queridas avós, Cecy e Olga.
O livro - Cultura com tempero e sabor - foi publicado ao final de 2008 e agora vou compartilhá-las com vocês. Vale a pena experimentar as receitas.
Beijocas

LEMBRANÇAS QUE ALIMENTAM A ALMA
Carla M. Moreira Reis Queiroz

Lembro-me ainda como se fosse agora. Acordava às 05:00 horas, tipicamente adolescente... resmungando, querendo que fosse sábado e que não houvesse aula naquele dia. “Lavar o rosto, tomar café e escovar os dentes era um verdadeiro martírio”... Colocava aquela mochila nas costas, afinal naquela época não existiam pastas de rodinha, mas, em compensação, as mochilas também não eram tão pesadas. 05h:40 min, ouvia a saudosa voz do meu pai :
 - Vamos Carlinha, você vai perder o ônibus.
- Já estou indo, faltava apenas passar o brilho (não era gloos). Beijava a mamãe e saía.
Papai me acompanhava até a rodoviária por segurança e, dali, ele fazia a sua caminhada matinal de 8 Km.
Pegava o ônibus de 06h:08min. Ainda fazendo corpo mole, de adolescente, ia logo sentando e tentado encontrar uma posição para o último cochilo, que raramente acontecia, pois a turma (galera) ia entrando a cada ponto e, ao final, o fundo do ônibus era todo nosso. Ai de quem se sentasse ali, que não pertencesse ao grupo. Logo um fazia uma molecagem e só sobrava a turma lá de trás. Até o motorista era conivente com a situação e logo olhava-nos do espelho retrovisor, com aquele sorriso cúmplice...  Bem, chegávamos à praça da estação. Nos separávamos e cada um ia para sua escola. Eu ainda pegava outro ônibus, mas naquele momento já estava revitalizada e pronta para o novo dia.
Escutava a música de encerramento, era assim que nossa aula acabava e não com sirenes tocando. Saiamos da sala conversando sobre a manhã de estudos...  
Aquele dia era especial para mim. Eu não iria voltar para Santa Luzia, pegaria sim o mesmo ônibus que peguei de manhã, na Av. Amazonas, o 1702 - Pompéia/Jardim América, porém agora no sentido Pompéia, onde iria passar a tarde até o papai chegar. Eu iria para a casa da vovó.
Neta mais velha e sua afilhada, quando chegava ao portão ela já estava lá, com aquelas perninhas curtas, esticadas no banquinho, sentada na cadeira de balanço da varanda, cronometrando a chegada. Afinal, ela era toda pontual. Quando abria o portão, já sentia o cheiro gostoso da comida; ora bolinhos de arroz, ora almôndegas... e o infalível suflê de batatas mas, este era só para o papai. Afinal, era o único varão da casa e o caçula... Deu água na boca só de pensar.
Assim que me via, se levantava  e ia até ao portão, sempre trancado de cadeado. Pequenininha, cabelo bem grisalho preso por travessas marrons, unhas bem feitas, saia até os joelhos e blusa de botão.  Dava-lhe um beijo gostoso, envolvido pelo aroma do inesquecível Leite de Rosas, e entrava.
A mesa já estava posta. Tudo era muito gostoso. O bolinho de arroz tinha sabor bem escondidinho de queijo e bastante salsinha. Verdura, legume, e o imprescindível arroz com feijão. A carne era variada, bife, frango, almôndegas... Enfim, comida de vó.
Lá da cozinha, vinha o sorriso gostoso e discreto da companheira de anos... A “secretária”, carinhosamente chamada de Coroa. Naquela época eu tinha por volta de  13 anos e ela já estava na família há 12 anos e 5 meses... e esta até hoje! Olhe que já tenho 40 anos!
Depois do almoço, descansar, esticar as perninhas. Cafezinho para completar. O relaxamento, era quase que um ritual.
À tarde, após concluir os trabalhos escolares,  jogávamos cartas: buraco, burro... e quando ela ganhava contava até musiquinha. Ai, que saudades daquele tempo, daquelas tardes...
Durante o jogo o cheirinho de café novo invadia a casa. Queijo fresco, pão novinho e de quebra, lá estava o bolinho de arroz (sobra do almoço)...
Lembranças que jamais saem da alma, lembranças fortes de um amor incondicional...

Bolinho de arroz

3 xícaras de arroz cozido até empapar.
Bem sequinho o arroz, passe-o no espremedor de batatas.
Adicione
2 ovos pequenos,
sal a gosto,
cebola média batidinha
Pimentinha à gosto
3 colheres de sopa de queijo parmesão ralado
Farinha de trigo apenas para dar liga na massa.
Ao final
1 colher de sopa de pó Royal.
Frite em gordura limpa e aquecida, as colheradas da massa.                  09/09/08

Nenhum comentário:

Postar um comentário