segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Crônica 2 do livro Cultura com tempero e sabor

Ricas recordações da Infância

Carla Margareth Moreira Reis Queiroz

                        Santa Luzia, Década de 70... Deslumbrante rua Direita, com seus casarões contando a rica história, da brava cidade que viveu a revolução de 1842... Naquela época, os veículos ainda eram poucos, Shopping nem pensar... As famílias saiam às ruas, à noite para colocar os “causos” em dia, sentavam-se ao passeio e nós, as crianças, íamos andar de patins (aqueles de ferro, com quatro rodas), de bicicleta, carrinho de rolimã e patinete (artesanais, feitos pelo tio Zé) era o máximo subir rua Direita e descer desafiando o perigo da queda. Sabíamos que cair significaria muitos dias em casa cuidando dos ralados e o pior, ouvindo os gritos de alegria e as gozações dos colegas à noite.
                        Em meio àqueles casarões da rua direita, bem próximo à magnífica igreja Matriz, uma Casa rosa e azul, há anos era habitada por uma família essencialmente luziense. Anexa à casa havia uma loja enorme  (Hoje Cejam, antiga boutique Ceci). Lá,  atrás daquele balcão um homem alto, bonito, cabelos lisos e negros como índio, sempre assobiando bem baixinho, uma musica suave. O saudoso vô João. Conhecido e carinhosamente lembrado até hoje, como João Barracão. De comportamento discreto, João Barracão construiu seu legado ao lado da forte e destemida esposa – Vó Ceci, comerciante bem sucedida, devota incondicional de Santa Luzia e Nossa Senhora Aparecida. Sempre disposta e alegre... Um casal feliz e abençoado, com seus seis filhos Maria, Mariza, Marina, Mara, João e Magda.
                        Com tantos filhos, naquela época vô já tinha, seis netos (Liliana, Claudia, Cristiane, Magali, Carla e Giovanni), bem arteiros e que não perdiam a oportunidade de se aventurarem pela “venda” (a loja de João Barracão era carinhosamente chamada de venda). Nela tinha de tudo: feijão, arroz, milho, etc...  “à granel”. Era muito bom colocar as mãos ali e remexer em tudo aquilo, só não podia era deixar o vô ver. Sob o balcão, dentre outras coisas, havia, sempre o canecão de alumínio do vô. Cheio de café com leite e pão picadinho, que ele comia durante toda manhã e uma “maravilhosa” vitrine de doces. Aqueles comprados lá na Av. Santos Dumont em Belo Horizonte, cheios de açúcar e embalados individualmente por plástico. Hum... Lembrei-me agora da Maria Mole; branca, rosa, amarela... bem cheia de açúcar e puxenta... “Roubar” aqueles doces da vitrine era uma aventura e tanto, adrenalina pura, como se diz hoje. Quando encontrávamos os estalinhos então? E na hora do “furto”! Se a caixinha caísse no chão? Nossa, que frio na barriga... que corre-corre...
            O Vovô tinha as mãos enormes, nunca nos bateu, mas só de ameaçar já saímos correndo pela “contra venda” que dava acesso à casa e nos escondíamos lá no quintal, atrás de algum pé de fruta... Era uma aventura, principalmente que para chegar ao quintal tínhamos que descer aquela escada comprida e perigosa e passar desapercebidos pela vovó, quando estava na cozinha. Ufa! Valia a pena!
                        Quando chegavam os brinquedos...  Nossa! Ficávamos curiosos mas, os grandes olhos do vovô nos “fitavam” como um radar a observar nossas mãozinhas inquietas cheias de vontade de fazer um furinho no plástico para descobrir o que era.
           Ah! E os domingos? Estes eram os dias mais esperados. A vovó, exímea cozinheira preparava delícias na cozinha. Era o famoso almoço que aos domingos sempre finalizava com um doce salivante: Gelatina mosaico, torta de banana... Eu naquela, época morava na casa deles e já sabia direitinho quando a sobremesa era a torta de banana, pois o cheiro era inconfundível.
                        O Domingo era especial para todos os netos que conseguissem repetir a parlenda:

Hoje é Domingo
Pé de cachimbo
O cachimbo é de barro
Bate no jarro
O jarro é de ouro
Bate no touro
O touro é valente
Bate na gente
A gente é fraco
Cai no buraco
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo!

             Quem conseguisse recitar tudo sem vacilar, ganhava uma moeda enorme de cruzeiro, que saía da antiga e exuberante caixa registradora da venda. A vovó dava duas. Nossos olhos brilhavam ao recebê-las. Íamos direto para a rua do Serro, no antigo bar do Zé Carvalhinho. Com uma das moedas, comprávamos um saco cheio de bala de amendoim coberta de chocolate, e com as outras comprávamos  picolés no bar do Bibiano durante a semana, na saída do Grupo Escolar  (Modestino Gonçalves e Santa Luzia). Hum! Que delícia!
             Era tanta bala que passávamos a semana comendo, afinal, se exagerássemos, não conseguiríamos comer a deliciosa torta de banana da vovó.

Torta de banana
Creme (tipo mingau de maisena grosso)
Coloque em uma panela e leve ao fogo brando:
1 litro de leite
4 colheres de sopa , bem cheias, de Maisena (dissolvida em um pouco de leite)
2 gemas sem pele
5 colheres de sopa, bem cheias de açúcar refinado
1 colher de sopa, bem cheia, de manteiga.
Essência de baunilha a gosto
Deixe ferver até engrossar e sair o gosto da maisena e da gema.

Doce de banana
1 penca de banana caturra bem madurinha (pique a banana em rodelas)
Faça uma calda de açúcar até dar o ponto de fio, coloque água e acrescente as
bananas. Deixe ferver bem até as bananas cozinharem, sem desmanchar.

Suspiro
2 claras
4 colheres de açúcar refinado
Bata as claras em neve e acrescente o açúcar.

Montando a torta:
Uma camada de creme (metade)
Cubra o creme com o doce de banana
Uma camada de creme (a outra metade)
O suspiro

Leve ao forno pré-aquecido para assar.

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